A Empreendedora que transformou sua produção de barro em sucesso internacional
Assim como o barro se transforma em arte nas mãos certas, Maria das Neves Paiva, conhecida popularmente como Nevinha das Cerâmicas, moldou os desafios que encontrou ao longo dos anos em uma trajetória de sucesso. Nascida e criada no município de Itabaiana, na Paraíba, nunca imaginou que o empreendedorismo que começou de forma humilde a levaria a ser reconhecida internacionalmente por sua cerâmica preta.
Desde jovem, se define como uma pessoa criativa e otimista, características que, junto com sua fé, foram essenciais para o seu sucesso:
“Quando a gente acredita que Deus existe e que ele pode tudo, não dá nada errado! Quando estou fazendo alguma coisa, eu não penso negativo. Porque eu digo que Deus é maior e quando ele bota a mão, ele conclui e capacita a gente pra resolver”.
Ainda na adolescência, começou a trabalhar no comércio local, mas sua vida tomou um rumo diferente após os 18 anos, quando conheceu o marido, Antônio Teixeira de Paiva, mais conhecido como Tôta. Foi ele, um habilidoso artesão de Itabaiana, o responsável por apresentá-la ao universo da cerâmica.
Após o casamento com Tôta, Nevinha se mudou da casa da mãe para morar com o marido. Pouco tempo depois, se afastou do comércio para se dedicar inteiramente à casa e aos dois filhos. Mesmo com as dificuldades financeiras e os estudos interrompidos ainda no primário, ela se empenhou em garantir que os filhos tivessem acesso à educação.
A mudança de cenário permitiu que observasse a vida de outra perspectiva e mergulhasse mais profundamente na arte da cerâmica, dando início ao que mais tarde se transformaria em um próspero negócio. Com sua visão criativa enxergou no ofício uma boa oportunidade e sugeriu que abrissem juntos um ateliê próprio. Inicialmente, Tôta não acreditou no potencial do negócio, mas quando Nevinha coloca uma ideia na cabeça, não há quem tire:
“Quando quero algo eu corro atrás, às vezes não dá certo, mas eu insisto e no fim, dá! Eu sou uma pessoa que acredita muito em tudo que vou fazer.”
Enquanto se dedicava à casa e a família, ela investia o dinheiro que conseguia em materiais para o negócio. Encontrou grandes dificuldades tanto na produção quanto na venda de peças, especialmente durante o mês de maio, época em que seus filhos faziam aniversário. Um dos períodos mais complicados para o comércio, com as vendas praticamente paradas. Os filhos cresceram sem festas de aniversário devido à falta de recursos, mas Nevinha, seguiu em frente acreditando no potencial de seu trabalho.
O esforço rendeu bons frutos anos depois e aos poucos a situação da família melhorou. A artesã se aprofundou cada vez mais nas artes, desenvolvendo principalmente peças utilitárias, mas também se aventurando na arte popular, produzindo caricaturas, esculturas de corpo e rostos indígenas. Ela também expandiu sua arte ao criar animais de cerâmica, como dinossauros, jacarés, tartarugas e elefantes, de diferentes tamanhos e poses, acrescentando um toque de criatividade e humor à sua produção.
Em meio a rotina turbulenta, a artesã não esqueceu de aproveitar intensamente a vida, sempre presente nos festivais, contagiando os lugares e as pessoas próximas com sua extroversão. Com espírito festivo, participou de diversas celebrações culturais, sendo especialmente apaixonada pelo carnaval, uma festa que até hoje tem o seu coração:
“Não perdia um carnaval. Meu pai ia me buscar porque eu saía escondida.”
Além do reconhecimento como artista, Nevinha também desempenhou um papel fundamental na promoção do artesanato paraibano, ao ser uma das pioneiras do Salão de Artesanato em Campina Grande, na Estação Velha. Ela também realizou exposições em vários lugares, como João Pessoa, Recife, São Paulo, Brasília, Maceió e Minas Gerais.
Somente em 2018, depois de anos mudando de residência, Nevinha conseguiu sair do aluguel e conquistar a casa própria, que posteriormente trocaria com o imóvel da mãe para facilitar o seu negócio. Atualmente, essa casa é onde funciona o seu ateliê de cerâmica, o resultado de anos de luta e dedicação.
A artesã é uma figura admirada não só por sua arte, mas por seu papel como empreendedora. Sua história de superação inspira outras mulheres e jovens a seguirem seus sonhos, mostrando que é possível mudar e moldar o rumo de uma história, com paciência e dedicação em algo belo, assim como quem transforma o barro em arte. Seu trabalho transcende a produção de cerâmica; ela é um símbolo de perseverança e empoderamento feminino.
Hoje, aos 70 anos, Nevinha está aposentada e após tantas conquistas, ainda se mantém ativa, planejando novos modelos de cerâmica, realizando vendas internacionais e atendendo clientes em sua loja com simpatia e gentileza. Aproveitando a vida e os bons momentos na companhia do marido, dos filhos e netos, mantendo vivo o seu amor pela arte:
“Chega um tempo que a gente vê que já conseguiu o que queria da vida. Cá está eu e meu velho. Prontos! Estamos trabalhando até a hora que der. Agora é viver a vida, ou morrer, sei lá. Ou ir pra mais um carnaval.”
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EXPEDIENTE:
Reportagem: Diney de Melo e Marcele Saraiva
Fotografia: Mikaelly Franklin e Jonas Olliver
Redação: Diney de Melo, Jonas Olliver e Marcele Saraiva
Monitoria: Bianca Dantas e Cecília Sales
Supervisão Editorial: Ada Guedes e Rostand Melo
Locação: Ateliê de Nevinha das Cerâmicas e Tôta, Itabaiana - Paraíba
Sucesso pessoal
Foi ótimo fazer essa reportagem! ❤️