Principal cartão postal da cidade, o Açude Velho é um dos pontos mais fotografados em Campina Grande, seja pelos vários monumentos e museus no seu entorno como também pelo nascer e pôr do sol com a presença das ilustres garças. Construído em 1830, abasteceu a população campinense por muitos anos até ser declarado impróprio para o consumo humano, mas recentemente a situação do manancial tem piorado. A água tem ficado cada vez mais turva, com coloração verde e muito lodo, além do odor forte que tem incomodado as pessoas que passam pela área, sobretudo para fazer atividade física.
Uma dessas pessoas é a secretária Rosilda Pessoa. Ela passa todos os dias pelo local para ir ao trabalho e lamenta a situação do açude:
‘’ Muitas vezes, está com mau cheiro. A poluição é um assunto muito importante a ser discutido porque a prefeitura tem que limpar o cartão postal da cidade, tanto para os turistas quanto para quem caminha às margens do Açude Velho. Como eu me sinto? Incomodada com o mau cheiro ‘’.
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Pesquisadora de meio ambiente da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), a professora Soahd Rached destaca que o açude chegou a esse ponto pela falta de controle da matéria orgânica despejada no local pelos esgotos:
‘’ O manancial está recebendo águas novas contaminadas com esgotos clandestinos o que não era para ocorrer. Ele não teria acessibilidade de esgoto para dentro dele se tivesse um perfeito sistema de conexão do esgotamento da cidade para a linha de esgoto. A nossa linha de esgotamento é separada das águas da chuva. O açude ainda é passível de entrada de material e pior ainda do material passado que está lá. ’’
Segundo a professora a falta de uma descarga de fundo, estrutura responsável por fazer uma retirada dos sedimentos localizados no fundo do açude, também torna mais difícil ainda a situação
‘’ Isso aí seria uma forma de rebaixar gradualmente o nível da sujeira embaixo e a água nova ia chegando, claro que ia vir com matéria orgânica, mas não ia vim com toda carga que já estava acumulado lá. ’’
Isso prejudica a vida aquática que tenta resistir ao excesso de algas existentes no reservatório:
‘’ As algas têm toxinas que intoxicam o peixe e também tem um efeito de cortar a luz para pontos abaixo do açude. As algas deixam a falta de penetração de luz abaixo porque elas criam esse reflexo. ’’
Durante a reportagem foi possível observar funcionários da Secretaria de Serviços urbanos e Meio ambiente (SESUMA) limpando a superfície do açude com uma balsa que retira o lixo despejado pelos canais, galeria e pelas pessoas que caminham no entorno do reservatório. Outra medida que estava sendo feita era a utilização de sulfato de alumínio a fim de diminuir a coloração esverdeada da água. Procurada para saber se há um projeto de despoluição a longo prazo do açude velho, a SESUMA não atendeu nossas ligações.
Para a professora Soahd uma solução viável seria a utilização da técnica de sinfonagem: ‘’ Antes do período chuvoso, seria acionado um processo de rebaixamento usando o sistema de sifão que retiraria a lama do fundo do açude seccionando a sujeira com as algas que não são fáceis de serem removidas com as chuvas normais. É claro tem que ter todo um preparo porque gera um impacto, você está esgotando o açude e tem que ter equipes de outro lado para fazer contenção dentro do canal. Se algo não for feito as algas que estão ali vão gerar mais nutrientes e outras algas vão surgir. Então é um ciclo que não acaba’’, explica.
O fato é que todo campinense sonha em ver o principal cartão postal da Rainha da Borborema despoluído e para isso é necessária uma intervenção urgente.
FICHA TÉCNICA
Entrevista e texto: Matheus Farias, Joelson Araújo
Fotografia e edição: Joelson Araújo
Supervisão editorial: Rostand Melo
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