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Louise Viana e Roberto de Sousa

"É preciso estar atento e forte" para viver durante a pandemia

Atualizado: 1 de jun. de 2021


Foto: Roberto de Sousa / Coletivo F8


A estranheza revela-se necessária para a comodidade ser sentida.


Quando nascemos, respirar é nosso primeiro motivo de incômodo. Choramos, pedimos o afago de nossas mães e continuamos sem entender esse sentimento. Perceber o ar irrompendo o interior dos nossos pulmões não nos alivia, e sentir-se terrestre, árido, quando nosso costume era estar envolvido numa placenta materna, manto quente de aconchego e proteção, menos ainda. A saída da zona de conforto é desesperadora. Ainda assim, precisamos viver, sobreviver, e, por fim, nos adaptar.


Passam os anos e a maturidade nos percorre. Sentimos necessidade de sermos independentes e desprender do seio familiar que nos abriga, como um fruto que sai da árvore-mãe e atravessa novos caminhos. A individualidade nos faz ter prazeres próprios. Focamos naquilo que nos abrasa e preenche, e aproximamo-nos de pessoas que parecem completar nossos próprios vazios. Aos poucos, os espaços que frequentamos tornam-se também um pouco nossos, e a rotina passa a ser companheira de nossas vidas. A obrigação de tornar-se ocioso, de repente, é uma tarefa árdua.


Foto: Roberto de Sousa / Coletivo F8


A pandemia veio como uma avalanche. Sem preparo algum, a dor da perda, a dor do regresso, a dor da distância e, principalmente, a dor do incômodo nos corroeu. A história já mostrou doenças de grande porte devastarem a humanidade, mas com a ciência ganhando protagonismo, pensávamos ser irreal acontecer algo semelhante novamente.


O isolamento social trouxe consigo uma série de ressignificações. Agora, confinados em casa, itens já conhecidos de nosso cotidiano assumem novas importâncias, e entram como personagens em nossas vidas: a máscara no rosto, o álcool em gel na mão, e as inverdades a nossa volta.

Foto: Roberto de Sousa / Coletivo F8


Enquanto alguns munem-se contra o perigo à solta e adequam esses apetrechos no seu dia a dia, outros persistem na imposição de uma normalidade não possível, e são tentados pelas saídas fáceis, também protagonistas de um tempo marcado por discursos enganosos: comprimidos que curaram idosos que ninguém conhece, ou então misturas milagrosas que o renomadíssimo pastor da esquina relatou que funcionavam.


O incômodo é parte necessária da adaptação.

Assim como em todos os outros estágios de vida, compreender a necessidade de mudança é também mostrar-se disposto a combater a doença na linha de frente. Recuar e agir como se ainda estivéssemos em condição de normalidade seria ingênuo.


Confira mais fotos no slideshow:

Fotos: Louise Viana / Coletivo F8


Armemo-nos com o que há em nosso redor, coloquemos nossas máscaras, entendamos os rituais de higiene e duvidemos das facilidades. Só atravessaremos a doença se ela for encarada como uma nova primeira respiração: é doloroso abandonar nossos hábitos antigos, mas só a partir de nossas pequenas adaptações seremos capazes de encarar as novas possibilidades de viver no futuro.

 

FICHA TÉCNICA:

Crônica e fotografias: Louise Viana e Roberto Sousa

Supervisão Editorial: Rostand Melo


Agradecimentos: Agradecemos a nossas famílias, que não pouparam esforços em serem nossos modelos e nosso apoio durante essa produção. Também fica aqui nosso agradecimento a todos aqueles que respeitaram a quarentena, protegendo e salvando a si mesmo e tantas outras vidas.



*Fotoilustrações na pandemia:

O Coletivo F8 optou por produzir matérias do gênero “ilustrações fotográficas” durante a pandemia como forma de manter a produção dos estudantes de fotojornalismo da UEPB respeitando os protocolos de distanciamento social. As fotoilustrações permitem ao fotógrafo criar uma cena com o objetivo de representar visualmente um tema ou pauta. O uso de objetos, cenários e, em alguns casos, edição de imagens é comum neste gênero.


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