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Eduardo Araújo, Hélio Andrade e Mônica Paixão

Nada será como antes: a cobertura dos protestos em Hong Kong

Atualizado: 1 de jun. de 2021

O CONTEXTO


A situação em Hong Kong, na China, é alarmante. Após o país impor a Lei de Segurança Nacional, a autonomia da cidade em relação a Pequim foi quebrada. Diante disso, nativos da cidade iniciaram uma série de protestos, sendo fortemente reprimidos pelas autoridades chinesas. É neste cenário que as fotos compiladas pela CNN mostram a situação conturbada na região.


Os registros foram feitos entre o final de maio e o início de julho de 2020, quando a lei foi imposta. Para entender a situação, é necessário fazer uma viagem para 1842, quando Hong Kong torna-se colônia britânica. Em 1997, após negociações entre China e Reino Unido, Hong Kong retorna a pertencer ao país asiático, porém com autonomia administrativa e política em relação a Pequim, e passa a vigorar o modelo: "um país, dois sistemas".


Com a ameaça do coronavírus, Pequim vem tentando violar o sistema de Hong Kong, gerando uma onda de protestos por toda a cidade. Os temores da pandemia, no entanto, não impediram os manifestantes de lutarem, como mostra o fotógrafo chinês Dale De La Rey, cuja temática “5 demandas, nem 1 a menos” se faz presente como forma de desacordo com a presidenta-executiva de Hong Kong, Carrie Lam, que cedeu uma das demandas do projeto da lei, mas se recusou a fazer o mesmo com as outras quatro exigências.


Protestantes fazendo o sinal do "5 demandas, nem 1 a menos"

AS FOTOS DOS PROTESTOS


De um ponto de vista ético, as fotografias que retratam os protestos de Hong Kong não ferem preceitos da ética jornalística, pois cumprem a missão de informar a sociedade internacional ao denunciar a repressão das autoridades de segurança chinesas perante os manifestantes.


Por outro lado, se, eventualmente, a exposição (com intuito informativo, ressalta-se) de algum manifestante for questionada relacionada a questões éticas, esta, por sua vez, é justificável enquanto valor histórico e, portanto, documental.


As imagens captadas pelos fotógrafos Dale De la Rey, Tyrone Siu, Anthony Wallace, Anthony Kwan, Isaac Lawrence, entre outros, estão protegidas pela Convenção de Berna para a Proteção de Obras Literárias e Artísticas, que assegura internacionalmente o direito autoral nos 175 países signatários, dentre eles a China e Reino Unido.


Em relação aos direitos patrimoniais, que estabelecem a exploração econômica do produto, a depender do contrato do profissional com a empresa, a fotografia pode ser comercializada pela agência e esta pode contrair os dividendos da obra. Salienta-se que a exploração comercial deve ser cedida pelo autor, podendo ser temporária ou definitivamente, mas a autoria é inalienável e irrenunciável. Trata-se do direito moral do autor, que considera a obra, neste caso a fotografia, algo pertencente a pessoa física.


A respeito da apresentação, em poucas linhas, a CNN noticia a nova onda de protestos. O diferencial da notícia, entretanto, fica a cargo das várias fotos escolhidas pela agência, que opta por trazer uma dimensão maior da situação na cidade de uma forma não permitida pelo texto verbal.


No total, foram escolhidas 25 fotografias no formato retangular para a notícia. Sobre as composições, a maioria das fotos são visualmente precisas, algo fascinante, dado o contexto.


Mesmo com a apresentação de caráter unitário, o agrupamento das fotos feitas pelo veículo de comunicação americano tem um apelo narrativo e foto-noticioso poderoso, justificando a ótima escolha de apresentar o acontecimento de uma maneira mais visual do que verbal.


Confira algumas fotos compiladas pela CNN:


A PANDEMIA E O FOTOJORNALISMO


Nada será como antes. Tudo já conhecido virou passado de uma rotina distante. As relações e as experiências familiarizadas ficaram para trás. As mudanças são claras em todos os setores sociais, principalmente no trabalho da mídia. Com a chegada do coronavírus, o jornalismo ganhou maior destaque, e o fotojornalismo uma nova configuração.


Equipamentos de proteção pessoal, hoje, substituem os de fotografia. Em entrevista ao Comunique-se Portal, o fotógrafo Mauro Pimentel desabafa: "Estávamos acostumados a ficar em um lugar por três semanas e voltávamos para casa seguros. Agora não, o vírus pode estar no meu pé”. Os riscos na produção são grandes, mas valiosos para a memória periódica.


Se antes o fotojornalista cobria eventos internacionais, atualmente, a maior cobertura é nacional, a exemplo de Hong Kong, cujos fotógrafos envolvidos na matéria divulgada pela CNN eram, em sua maioria, locais. Dessa forma, compreende-se que o fotojornalismo se tornou um território de insegurança, afinal, a atual crise de saúde só ampliou os desafios da profissão.

 

FICHA TÉCNICA:

Fotógrafos em ordem de apresentação: Dale De La Rey (AFP/Getty Images); Tyrone Siu (Reuters); Anthony Kwan (Getty Images); Anthony Wallace (AFP/Getty Images); Isaac Lawrence (AFP/Getty Images) e Anthony Wallace (AFP/Getty Images).

Supervisão Editorial: Rostand de Melo


*Observatório de Fotojornalismo:

O Coletivo F8 optou por produzir análises sobre produções de fotojornalismo realizadas e publicadas em 2020 como alternativa de manter a produção acadêmica dos estudantes de fotojornalismo da UEPB, respeitando os protocolos de distanciamento social. São analisadas fotografias publicadas em revistas, jornais ou portais de notícias e que abordam temas diversos, mas que foram produzidos no contexto da pandemia.


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