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Ana Kamylle

Audiolivros: como a ferramenta pode impulsionar a alfabetização de crianças

De acordo com a Audible (serviço de audiolivros da Amazon), 66% dos brasileiros acreditam

que os audiobooks auxiliam no processo de aprendizado. A ascensão de obras gravadas abre

portas para um novo tipo de conexão entre a literatura e o público consumidor.

livro As Cronicas de Narnia volume unico em pé usando fones de ouvido ao lado do livro o hobbit
Foto: Ana Kamylle

A leitura exerce um papel de suma importância na formação do imaginário dos indivíduos. A

capacidade de visitar mundos diversos e se alimentar intelectualmente do que os livros

podem oferecer deve ser uma vivência democrática, de todos e para todos. Desde o

desenvolvimento de habilidades linguísticas para crianças até a vasta possibilidade de

inclusão, os audiobooks propiciam uma imersão no texto narrado de maneira atrativa e

estimuladora. Além disso, se apresentam como uma alternativa viável para os problemas de

tempo da sociedade atual.

Livro de capa dura neutra em pé com fones de ouvido e livros infantis ao seu redor
Foto: Rafaella Arruda

No Brasil, o hábito de ler entra em conflito com as multitarefas necessárias para a

sobrevivência diária, especialmente no seio familiar. É comum que as crianças, naturalmente

dependentes dos responsáveis para ter contato com a leitura, sintam as consequências dessa

lacuna, ainda que inconscientemente.


Solange abaixada ao lado da sua filha Sara que está com um livro infantil aberto e usa fones de ouvido
Foto: Ana Kamylle

Solange, trabalhadora e mãe de três filhos, relata as dificuldades enfrentadas com sua caçula

no processo de alfabetização:

“É complicado porque não sei ler nem escrever, aí quem ajuda ela com as atividades são meu dois filhos. Eu dependo deles”.
Foto: Ana Kamylle

Acerca da temática, ouvimos Leonardo Queiroga, professor de literatura e atuante no projeto

Entre Páginas, que discorre sobre tal impasse: “É sempre bom lembrarmos que,

lamentavelmente, ainda somos um país com milhares de cidadãos analfabetos, reais e/ou

funcionais, invariavelmente, com pouquíssimo acesso ao livro, o qual se mostra um artefato

que, historicamente, sempre esteve voltado a uma elite no nosso país. Assim,

indiscutivelmente, os audiobooks podem, uma vez massificados, na medida em que são

bastante didáticos, educativos e inclusivos, auxiliar na alfabetização/consolidação de

potenciais leitores no país, como também amenizar essa profunda elitização em torno do livro

enquanto objeto cultural no solo brasileiro. E isso é algo extremamente benéfico à nação.”


Foto: Mariana Veríssimo

Explorar a capacidade de escuta


Outro ponto a ser exaltado é que ao ouvir histórias, as crianças têm a oportunidade de

aprimorar sua compreensão auditiva, pois acompanham a entonação, os diferentes tons de

voz e as pausas narrativas, o que contribui para a compreensão do conteúdo. Além disso, os

audiobooks despertam a imaginação e a criatividade, permitindo que os pequenos mergulhem

em mundos imaginários enquanto exercitam a concentração e a capacidade de visualização

das narrativas.


Foto: Ana Kamylle

A professora Cleyce, que dá aula para turmas do fundamental, explica como o processo

acontece: “Audiolivros são histórias que ganham vida pelos ouvidos das crianças. É como ter

um amigo contando uma história superlegal. Imagine ouvir um audiobook com efeitos

sonoros que fazem os personagens parecerem reais. As crianças fecham os olhos e deixam a

imaginação voar enquanto absorvem palavras novas e podem entender como as histórias

funcionam”.


Foto: Ana Kamylle

Tecnologia como aliada


Por meio de plataformas interativas, as crianças imergem em histórias cativantes, onde a

combinação entre o som das palavras e a visualização do texto cria um ambiente convidativo.

Essa junção proporciona uma compreensão profunda e sensorial, promovendo não apenas a

absorção do que está sendo ouvido, mas estimulando, também, a imaginação. Assim, a

tecnologia não só nutre a curiosidade dos pequenos leitores, mas também consolida os pilares

da alfabetização, incentivando a habilidade de leitura e a fluência na escrita.

Foto: Mariana Veríssimo

No que se refere às perspectivas futuras para o uso de audiobooks e o dilema ético/político

que cabe nessa discussão, o professor Leonardo aponta: “Obviamente, seria uma ingenuidade

nossa acreditar que não existam megaempresas lucrando muito com a massificação desse

produto. No entanto, assim como aconteceu com o movimento burguês do início do século

XIX, que, a partir da Revolução Francesa e por meio do Romantismo artístico, transformou o

livro em um produto apreciado e revolucionário, torço para que os audiobooks possam estar

mais presentes na nossa realidade, fazendo-nos apaixonar, cada vez mais, pela literatura e por

histórias que merecem ser ouvidas, conhecidas e propagadas”.

Foto: Ana Kamylle

Inclusão é direito


Segundo a Agência Internacional de Prevenção à Cegueira, órgão ligado à Organização

Mundial da Saúde (OMS), pelo menos 100 mil crianças brasileiras possuem algum tipo de

deficiência visual. É fato que, diante de realidades distintas, os alunos precisam contar com

alternativas pedagógicas que alcancem a multiplicidade de suas especificidades. Constata-se,

portanto, que a utilização dos audiolivros é uma maneira de assegurar e reivindicar o direito

de que todos, desde a infância, merecem o deleite de desfrutar do conhecimento em sua

plenitude.


Confira mais fotos no slideshow:


Confira o slideshow fotorreportagem:


 
EXPEDIENTE

Monitoria: Ivaneide Santos

Supervisão editorial: Ada Guedes e Rostand Melo

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