De acordo com a Audible (serviço de audiolivros da Amazon), 66% dos brasileiros acreditam
que os audiobooks auxiliam no processo de aprendizado. A ascensão de obras gravadas abre
portas para um novo tipo de conexão entre a literatura e o público consumidor.
A leitura exerce um papel de suma importância na formação do imaginário dos indivíduos. A
capacidade de visitar mundos diversos e se alimentar intelectualmente do que os livros
podem oferecer deve ser uma vivência democrática, de todos e para todos. Desde o
desenvolvimento de habilidades linguísticas para crianças até a vasta possibilidade de
inclusão, os audiobooks propiciam uma imersão no texto narrado de maneira atrativa e
estimuladora. Além disso, se apresentam como uma alternativa viável para os problemas de
tempo da sociedade atual.
No Brasil, o hábito de ler entra em conflito com as multitarefas necessárias para a
sobrevivência diária, especialmente no seio familiar. É comum que as crianças, naturalmente
dependentes dos responsáveis para ter contato com a leitura, sintam as consequências dessa
lacuna, ainda que inconscientemente.
Solange, trabalhadora e mãe de três filhos, relata as dificuldades enfrentadas com sua caçula
no processo de alfabetização:
“É complicado porque não sei ler nem escrever, aí quem ajuda ela com as atividades são meu dois filhos. Eu dependo deles”.
Acerca da temática, ouvimos Leonardo Queiroga, professor de literatura e atuante no projeto
Entre Páginas, que discorre sobre tal impasse: “É sempre bom lembrarmos que,
lamentavelmente, ainda somos um país com milhares de cidadãos analfabetos, reais e/ou
funcionais, invariavelmente, com pouquíssimo acesso ao livro, o qual se mostra um artefato
que, historicamente, sempre esteve voltado a uma elite no nosso país. Assim,
indiscutivelmente, os audiobooks podem, uma vez massificados, na medida em que são
bastante didáticos, educativos e inclusivos, auxiliar na alfabetização/consolidação de
potenciais leitores no país, como também amenizar essa profunda elitização em torno do livro
enquanto objeto cultural no solo brasileiro. E isso é algo extremamente benéfico à nação.”
Explorar a capacidade de escuta
Outro ponto a ser exaltado é que ao ouvir histórias, as crianças têm a oportunidade de
aprimorar sua compreensão auditiva, pois acompanham a entonação, os diferentes tons de
voz e as pausas narrativas, o que contribui para a compreensão do conteúdo. Além disso, os
audiobooks despertam a imaginação e a criatividade, permitindo que os pequenos mergulhem
em mundos imaginários enquanto exercitam a concentração e a capacidade de visualização
das narrativas.
A professora Cleyce, que dá aula para turmas do fundamental, explica como o processo
acontece: “Audiolivros são histórias que ganham vida pelos ouvidos das crianças. É como ter
um amigo contando uma história superlegal. Imagine ouvir um audiobook com efeitos
sonoros que fazem os personagens parecerem reais. As crianças fecham os olhos e deixam a
imaginação voar enquanto absorvem palavras novas e podem entender como as histórias
funcionam”.
Tecnologia como aliada
Por meio de plataformas interativas, as crianças imergem em histórias cativantes, onde a
combinação entre o som das palavras e a visualização do texto cria um ambiente convidativo.
Essa junção proporciona uma compreensão profunda e sensorial, promovendo não apenas a
absorção do que está sendo ouvido, mas estimulando, também, a imaginação. Assim, a
tecnologia não só nutre a curiosidade dos pequenos leitores, mas também consolida os pilares
da alfabetização, incentivando a habilidade de leitura e a fluência na escrita.
No que se refere às perspectivas futuras para o uso de audiobooks e o dilema ético/político
que cabe nessa discussão, o professor Leonardo aponta: “Obviamente, seria uma ingenuidade
nossa acreditar que não existam megaempresas lucrando muito com a massificação desse
produto. No entanto, assim como aconteceu com o movimento burguês do início do século
XIX, que, a partir da Revolução Francesa e por meio do Romantismo artístico, transformou o
livro em um produto apreciado e revolucionário, torço para que os audiobooks possam estar
mais presentes na nossa realidade, fazendo-nos apaixonar, cada vez mais, pela literatura e por
histórias que merecem ser ouvidas, conhecidas e propagadas”.
Inclusão é direito
Segundo a Agência Internacional de Prevenção à Cegueira, órgão ligado à Organização
Mundial da Saúde (OMS), pelo menos 100 mil crianças brasileiras possuem algum tipo de
deficiência visual. É fato que, diante de realidades distintas, os alunos precisam contar com
alternativas pedagógicas que alcancem a multiplicidade de suas especificidades. Constata-se,
portanto, que a utilização dos audiolivros é uma maneira de assegurar e reivindicar o direito
de que todos, desde a infância, merecem o deleite de desfrutar do conhecimento em sua
plenitude.
Confira mais fotos no slideshow:
Confira o slideshow fotorreportagem:
EXPEDIENTE
Fotografia: Ana Kamylle, Mariana Veríssimo e Rafaella Arruda
Texto: Rafaella Arruda, Mariana Veríssimo e Júlio Dirceo
Monitoria: Ivaneide Santos
Supervisão editorial: Ada Guedes e Rostand Melo
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