A feira de Campina Grande como palco de disputas políticas, ideológicas, além de caldeirão cultural de um povo e região
A feira de Campina Grande antes de se tornar como é hoje, passou por diversas modificações quando se trata de sua localização, foi palco para diversos embates ideológicos e políticos. Ela surge a partir do aldeamento do povo Ariú – estes pertencentes ao grupo indígena Kariri; com a tarefa de pastorear o gado dos Oliveira Ledo, no até então Sítio Barrocas, hoje Vila Nova da Rainha, local que era estratégico para vendas.
A mandioca era um produto de destaque naquela época. Como as atividades comerciais eram à base da troca, esse alimento era usado, também, como moeda principal pelos tropeiros e boiadeiros que ali faziam suas pechinchas.
Passa por diversos locais, como na Avenida Floriano Peixoto e na Rua Do Seridó – hoje Maciel Pinheiro. Os pequenos feirantes se deslocavam constantemente com suas bancas para o mais próximo possível de grandes estabelecimentos, como os mercados. Quando um mercado era construído em outro bairro, havia essa necessidade de mudar de local.
A mudança da localização da feira, também, era motivo de questões políticas. Os embates entre liberais e conservadores faziam com que a cada mudança de legislatura dos políticos – conforme suas conveniências – mudasse o ponto da feira, surgindo à expressão que vigorava até então: “onde o poder vai, a feira vai atrás”.
A feira foi palco de disputas políticas e ideológicas, como a Revolta de Quebra-Quilos (1874) e a Revolta do Rasga-Vales (1895). Foi quando, em 1941 com a construção do Mercado Público ainda em andamento, foi transferido definitivamente pelo o prefeito Vergniaud Wanderley, em 30 de agosto, para o Bairro das Piabas ou os Currais, tornando-se a Feira Central de Campina Grande.
Setenta e oito anos depois, a Feira Central de Campina Grande recebeu, em 2018, o título de Patrimônio Cultural do Brasil, pelo o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). Hoje o Planalto da Borborema, como é conhecido a feira, popular e culturalmente, é ambiente para a diversidade comercial e de personalidades.
Conversando com Dona Maria do Socorro, que já está na feira há 28 anos vendendo ervas e demais artigos, conta que a feira é um local importante para os pequenos comerciantes: “A importância é grande. Todo mundo que trabalha aqui é porque não possui trabalho fixo. Aqui é minha única renda para pagar água, luz”.
Dona Maria atendendo cliente em sua banca
Embora ela tenha esse olhar de reconhecimento, relata que há dificuldades no seu ambiente de trabalho: “Uma das dificuldades aqui é a segurança, a gente não tem segurança aqui na feira. Higiene também é outra dificuldade, banheiro. Só tem um banheiro e é lá dentro do mercado, perto do setor de carne, quem trabalha na parte de cima tem essa dificuldade de chegar até lá”
Mas a feira não só se compõe de preços baixos e gritos de vendas, como também é um local de bastante cultura. É o que diz Seu Marcos, mais conhecido na feira como Marcos da Rede, ao falar da cultura da indústria artesanal de redes: “A rede é artesanato, a rede originou-se dos indígenas. É algo que é feito por artesãos. A produção da rede antigamente era manual, hoje não, você ver que tem mais tecnologia que envolve a produção de redes e permite que seja mais prático, rápido essa produção. Isso vem diminuindo a mão de obra, emprego”.
Marcos vendendo suas redes
Seu Marcos já está na feira há mais de 45 anos e já viu muita coisa dentro do ambiente da feira. Nos contou que seu maior desejo é ver a revitalização da feira e uma que haja uma organização. Para ele, a estética cultural da feira deve ser mantida, mas que deve haver organização.
Questões como segurança e limpeza, para ele, os feirantes deveria ter mais atenção pelo poder público municipal a fim de tornar o “Planalto da Borborema” um ambiente mais atrativo: “Queríamos mais atenção do poder publico para melhorar a limpeza, segurança, isso aí seria muito bom para nós assim como outras coisas básicas que um comerciante tem necessidade. Mais acessibilidade, mais políticas públicas que possa atrair pessoas, porque a feira é patrimônio cultural”.
Ficha Técnica:
Cobertura Fotográfica: Maria Beatriz de Oliveira e Vilmara Helena
Repórteres: Joanderson Lucas, João Cardoso, Maria Beatriz de Oliveira e Vilmara Helena
Redator: Filipe Assis
Produtor: Joanderson Lucas
Monitoria: @willyaraujo17
Supervisão Editorial: @rostandmelo
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