Não há como contar a história do Brasil de 1950 para cá sem passar, em algum momento, pelas fotografias de Evandro Teixeira. Ícone incontestável do fotojornalismo brasileiro, o baiano de Irajuba construiu uma trajetória marcante durante 70 anos de carreira, 47 deles dedicados ao Jornal do Brasil. O mestre Evandro nos deixou na tarde desta segunda-feira, 04 de novembro, aos 88 anos.
As imagens de autoria de Evandro foram além das páginas de jornal e estão eternizadas na nossa memória coletiva. Mesmo quem não conhece o seu nome já deve ter visto algumas de suas fotografias em livros de história, capas de jornais e revistas, documentários ou em exposições e galerias de arte. Os flagrantes que registrou resumem momentos cruciais da vida brasileira, como a tomada do forte de Copacabana no golpe de 1964, a passeata dos 100 mil em 1968, bem como a repressão ao movimento estudantil durante a ditadura militar.
Ao invés de destacar seus feitos e apresentar suas fotografias icônicas, escolhemos um outro caminho para homenagear o mestre Evandro: relembrar a passagem dele por Campina Grande, contando histórias dos bastidores e mostrando fotografias da presença dele por aqui.
Em 2019, Evandro esteve em Campina Grande para a palestra de abertura da 2ª Grão Fino – Semana de Fotografia. Além da força da amplamente conhecida obra fotográfica, Evandro conquistou a todos com o seu carisma. Com um jeito amoroso e bem-humorado, cativou quem aproximavam para dar um abraço, pedir uma foto ou puxar conversa. Olhares de admiração e encantamento se multiplicavam na plateia durante sua fala.
A palestra de Evandro lotou o auditório 3 da Central Acadêmica Paulo Freire, na época ainda chamada de “Central de Aulas”. Mas os ensinamentos do mestre continuaram pelos corredores da UEPB durante os três dias de evento. Focas e iniciantes na fotografia estavam ali, de igual para igual, batendo papo com um dos personagens mais marcantes do jornalismo brasileiro. Atencioso, escutava atento a quem lhe procurava.
Confira mais imagens no slideshow:
“INAUGURAÇÃO”
Um fato inusitado: Evandro Teixeira foi o primeiro personagem fotografado no Laboratório de Fotografia do curso de Jornalismo da UEPB após a reforma do espaço, realizada no decorrer de outubro de 2024 para a instalação do fundo infinito para o estúdio fotográfico. As estudantes Andresa Alves e Vitória Félix o convidaram para ser o protagonista de um ensaio fotográfico e uma entrevista para a produção de um perfil.
A produção foi acompanhada pela monitora da disciplina “laboratório de fotojornalismo”, Joyce Lima, e por outros estudantes e professores que acabaram atraídos pela presença de Evandro. Entre eles, o professor Sóstenes Lopes do curso de Arte e Mídia da UFCG e o fotógrafo campinense Marcos Vinícius Cacho.
O perfil foi publicado aqui na editoria “Retratos” do Coletivo F8, além de um texto sobre os bastidores da sessão fotográfica, postado na seção “por trás da foto”. Quem conferir o material vai perceber a forma como seu Evandro lidava com quem estava ao seu redor. Durante a sessão, Evandro retribuiu os cliques fotografou quem o fotografava. É o que você poderá perceber no slideshow.
COTIDIANO
Desde que chegou em Campina, Evandro Teixeira demonstrou interesse em conhecer e fotografar o cotidiano da cidade. E, claro, atendemos ao pedido. O mestre visitou a Vila do Artesão, passeou pelo centro da cidade e a Feira Central.
Lá na feira foi reconhecido enquanto fotografava no tradicional mercado de carnes. O marchante, poeta e cineclubista Aderaldo Tavares reconheceu o fotojornalista e o abordou perguntando “Esse é o famoso fotógrafo Evandro Teixeira?”, conforme relata o professor Sóstenes Lopes que acompanhava o nosso convidado.
Os dois engataram uma conversa e o fã inesperado disse que acompanhava o trabalho de Evandro, citando muitas fotos. Aderaldo recordou quando morou no Rio de Janeiro e das fotos marcantes na primeira página do Jornal do Brasil, emocionando Evandro. O fã virou então personagem de mais um retrato produzido por Evandro, que também se deixou fotografar ao lado do admirador.
CABACEIRAS
Evandro também fez questão de conhecer a cidade de Cabaceiras. Mas o foco dele não estava nos pontos turísticos da “Roliúde nordestina”, mas nas pessoas. Fotografou crianças brincando, pessoas conversando na rua e fez alguns retratos de integrantes da equipe da Grão Fino diante da placa famosa na cidade.
Estava no roteiro levá-lo no famoso pôr do sol no Lajedo de Pai Mateus. Mas não deu tempo. Nos atrasamos com Evandro conversando com as pessoas e dirigindo poses para seus retratos. Mas o mestre não lamentou: “Consegui o que queria”, disse mostrando a câmera com registros da gente simples do cariri paraibano.
PROMESSA
O desejo de voltar e conhecer o Lajedo de Pai Mateus permaneceu e Evandro seguiu mantendo contato conosco, manifestando o interesse em voltar à Paraíba. Em 06 de fevereiro de 2020, Evandro mandou e-mail contando que iria participar em abril do Foto Sururu, evento de fotografia em Maceió. Estava tentando convencer os organizadores a toparem a ideia de promover uma viagem em grupo para Cabaceiras. Veio a pandemia e a volta prometida não aconteceu.
Evandro Teixeira deixa saudades, mas segue presente na força da sua obra fotográfica. Continuará sendo inspiração para quem contempla as fotografias que produziu, mas principalmente para quem teve a oportunidade de conhecê-lo. Evandro eterno!
EXPEDIENTE
Texto: Rostand Melo
Fotografia: Joyce Lima, Wallington Cruz, Vitória Félix, Andresa Costa, Rostand Melo, Sóstenes Lopes e Evandro Teixeira
Supervisão editorial: Rostand Melo
Obrigada Evandro, lindo texto Rostand!
Acredito que faz jus a sua passagem pela UEPB, nunca conseguirei pôr em palavras como a oportunidade de o fotografar foi importante para mim e Vitória, mas sobretudo como ele segurava sua câmera como quem segurava o mundo e nos acolheu humildemente como estudantes e colegas de profissão. Descanse em paz, preservaremos sua memória e trajetória com muito carinho! ♥