Devido a pandemia da covid-19, foi adotado o isolamento social em todo o país a partir de março de 2020, com o intuito de diminuir a propagação do vírus. A partir desse momento, a população precisou se adaptar a essa nova realidade e começar a buscar por novos hobbies para passar esse tempo em casa de forma produtiva. Diante dessa situação, muitas pessoas viram na fotografia uma forma de se distrair e se expressar.
Os fotógrafos profissionais também passaram a registrar os acontecimentos do seu cotidiano durante a quarentena. Um desses fotógrafos é Carlos Alberto Silva, repórter fotográfico que atua no jornal A Gazeta e vencedor do Prêmio Aberje de Jornalismo em 2002, que produziu um ensaio chamado “De dentro para fora”, publicado no site A Gazeta do estado do Espírito Santo, em que ele captura o dia a dia de sua família e vizinhos durante esse período de isolamento.
A foto da mão segurando a tela de proteção com os prédios ao fundo, já poderia causar um sentimento de angústia em alguns antes mesmo da pandemia, porém no período atual a impressão que passa é que a tela virou as grades de uma prisão. O lugar que antes era o refúgio após um dia de correria e estresse cotidiano se tornou uma mistura de trabalho, sala de aula e várias outras coisas que até então eram feitas do lado de fora da casa.
Após algumas semanas, uma parcela da população voltou a trabalhar fora, mas os que permaneceram em casa com o tempo começaram a se sentir sufocados de estar dentro de seu próprio lar. A iluminação exatamente na mão dá um foco maior para ela, que ao segurar a grade transmite o sentimento de fuga e saudosismo, como se o fotógrafo estivesse admirando o mundo exterior e tentando voltar para ele.
Home office, estranheza, melancolia e tédio são só alguns dos muitos elementos retratados por Carlos Alberto Silva. Se valendo de seu olhar sensível e perspicaz, ele brinca com diversas composições e mostra que até os ambientes domésticos mais comuns podem oferecer perspectivas interessantes durante a quarentena.
Através de uma simples foto de seu vizinho, o fotógrafo mostra uma combinação entre as cores da roupa (Azul claro e bege) com as cores da parede para promover uma harmonização imagética, além de construir uma dinâmica de “movimentação” ou de “correria diária” ao ‘clicar’ o exato momento em que a pessoa se dirige ao seu destino enquanto fala ao celular.
É importante atentar-se ao fato da identidade da pessoa estar sendo preservada e de que essa preservação não se fez presente em outras fotografias do ensaio, o que poderia gerar reações adversas de pessoas fotografadas, ferindo o direito de imagem do cidadão caso elas não tenham autorizado previamente serem fotografadas.
Através da fotografia, foram contadas pequenas histórias das pessoas que ali vivem e tal artifício ajuda a criar um vínculo de empatia e identificação pelas “figuras” que protagonizam as fotos (o sentimento de ansiedade representado pelo cachorro que vigia da janela, o tédio retratado pela pessoa que está deitada com os pés para cima e até mesmo a sensação de alívio ao ver o catador de lixo recebendo ajuda).
Finalizando o ensaio, Carlos Alberto retrata o pôr do sol que encerra a tarde (a chamada ‘’Hora Dourada’’ no âmbito fotográfico) e ressalta toda a beleza natural que se sobrepõe nos céus da grande Vitória- ES. O material é feito, substancialmente, por ângulos discretos e longínquos. Mas e se fosse antes da pandemia? Certamente as fotos poderiam ter mais proximidade, revelando detalhes sutis, mostrando sorrisos alegres ao invés de máscaras e o ‘’feeling’’ poderia ser de confraternização despreocupada ao invés da angústia incessante.
Mais algumas fotos do ensaio no slide-show:
FICHA TÉCNICA:
Redação: Daniel Vidal e Giovanna dos Santos
Revisão: Giovanna dos Santos
Monitoria e Redes Sociais: Manoel Cândido, Josineide Barbosa e Louise Viana
Supervisão editorial: Rostand Melo
*Observatório de fotojornalismo:
O Coletivo F8 optou por produzir análises sobre produções de fotojornalismo realizadas e publicadas entre 2020 e 2021 como alternativa de manter a produção acadêmica dos estudantes de fotojornalismo da UEPB, respeitando os protocolos de distanciamento social. São analisadas fotografias publicadas em revistas, jornais ou portais de notícias e que abordam temas diversos, mas que foram produzidos no contexto da pandemia.
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