
Com a pandemia da covid-19, muitos hábitos foram adaptados para a nova realidade de isolamento social, como é o caso da leitura. Segundo dados do Sindicato Nacional de Editores de Livros (SNL), a venda de exemplares aumentou em 48,5% no primeiro semestre de 2021 em comparação a 2020. Ao todo, no último ano, o crescimento foi de 29,3%, o que resultou num faturamento de 29,2%.
Essas porcentagens podem ser explicadas pelas implicações do cenário econômico mundial. Em 2020 diversos setores foram afetados pela instabilidade do mercado, bem como o fechamento de unidades físicas, já em 2021 os comerciantes estavam adaptados à realidade pandêmica e as vendas online cresceram.
Em contrapartida, o preço dos livros subiu nas livrarias físicas. Vale lembrar que em 2020 o então ministro da economia, Paulo Guedes, após acabar com a imunidade tributária dos livros, declarou que estes são artigos da elite e que isso justificaria a taxação, o que pode explicar o afastamento das pessoas deste hábito e também o fechamento de unidades de grandes nomes do ramo.
Segundo pesquisa previamente realizada para a construção dessa matéria, 53,8% dos participantes informou que consome mais livros digitais. Esses exemplares ganharam força nos últimos anos devido à praticidade, acessibilidade e custo, sendo uma boa opção para pessoas que sofrem de alergias e problemas respiratórios. 54,6% dos entrevistados alegou que durante a pandemia o ritmo de leitura aumentou, o que pode ser explicado pelo isolamento social.
A internet tem sido aliada no incentivo à leitura nesse cenário. As já populares compras onlines se intensificaram — sobretudo pelas questões de preço — e nas redes sociais os amantes de livros podem encontrar ambientes receptivos para compartilharem experiências, resenhas e dicas. É evidente que a geração que nasceu na era digital é mais adepta aos formatos digitais e esse é um ponto a ser considerado, já que eles sintetizam os leitores do futuro.
Redes Sociais e literatura
O aumento dos usuários nas redes sociais durante o período de isolamento social foi inevitável. Segundo pesquisa realizada pela Kantar, empresa especializada em pesquisa de mercado, as redes sociais, como o Facebook, WhatsApp e Instagram, tiveram um aumento de uso de 40%. Outro aplicativo que disparou durante esse período foi o TikTok, que chegou a marca de 315 milhões de downloads, juntando os resultados da Apple Store e da Google Play, de acordo com dados da SensorTower.
O foco, entretanto, está nas comunidades literárias que surgiram (ou tomaram força) dentro desses aplicativos. Apelidadas carinhosamente de Bookgram (Instagram), Booktok (TikTok) e Booktube (Youtube), esses grupos fazem parte das redes dedicadas especialmente aos bookstans, ou seja, os amantes da literatura. Nelas, os influencers proporcionam diversos conteúdos voltados para o mundo literário, seja fazendo resenhas e resumos sobre as obras, indicando novos livros, produzindo memes ou participando das trends (tendências do momento).
Conforme a pesquisa realizada para a matéria, 22,7% dos entrevistados acompanham algum digital influencer literário e 35% ficou mais motivado a ler depois que começou a seguir perfis literários. Como já citado anteriormente, a venda e consumo de livros cresceu durante o período pandêmico, assim como os usuários em redes sociais, podemos então assimilar grande parte disso ao sucesso das comunidades literárias digitais.

A ligação do virtual com a literatura, entretanto, vai além disso. Há também redes sociais e aplicativos dedicados somente a quem é apaixonado por livros, espaços totalmente pensados em tornar a vida dos leitores mais dinâmica e interativa. A exemplo temos:
Skoob
Talvez a mais famosa entre as redes sociais literárias, o Skoob foi desenvolvido por brasileiros em 2009. O aplicativo proporciona uma espécie de estante virtual, onde os leitores conseguem classificar e organizar seus livros, fazer progresso de leitura e ainda interagir uns com os outros, vendo resenhas e comentários sobre as obras. Além disso, desenvolve sorteios na própria plataforma em parceria com várias editoras e promove desafios para estimular seus usuários a lerem mais.
LivraLivro
Com intuito de impulsionar a economia e o consumo consciente, a proposta do site é promover trocas de livros entre os usuário, no qual cada um expõe os livros que tem e os outros demonstram interesse, se livrando de um livro, você faz 1 ponto e com ele pode pedir outro livro de alguém e assim, a outra pessoa também ganha 1 ponto, formando um ciclo.
Lives literárias na Twitch
A plataforma dedicada a streaming de jogos, Twitch foi tomada por um novo público logo no início da pandemia, criando uma espécie de clube do livro digital. Os booktubers (criadores de conteúdo literário para o YouTube), começaram a aderir os serviços de live-streaming, realizando transmissões ao vivo enquanto leem, conseguem interagir com pessoas no mundo inteiro, lá são promovidas além das lives literárias, sprints, maratonas e desafios literários.
Com a ascensão dessas comunidades, entretanto, coincidentemente ou não, também cresceram o número de títulos pirateados. Durante o mês de abril de 2020, já na pandemia, houve um aumento no acesso e no download de livros falsificados, segundo o Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL), a Associação Brasileira de Direitos Reprográficos (ABDR).
Isso é prejudicial não só para o autor da obra como também para o mercado editorial, sobretudo quando falamos sobre literatura nacional. A escritora campinense Jadna Alana, autora de 'Para Onde Vão as Sombras', relata:
Quando a pirataria alcança o autor nacional chega a ser cruel. Aquilo — a venda dos ebooks — vai ajudar mesmo que minimamente. O pouco que recebemos ajuda: muitas vezes eu cheguei no final do mês sem saber como iria pagar alguma conta e o dinheiro da venda do ebook me ajudou. Tirar isso do autor é muita crueldade.
Infelizmente, não temos poder para alterar essa situação completamente, mas podemos conscientizar a população acerca do tema e informar maneiras de ter acesso à literatura de forma legal e acessível.
Alternativas para democratizar o acesso à leitura
Além do preceito de que “só rico lê”, trazido à tona recentemente pelo Ministro da Economia, vivemos sob uma crença: o Brasil não é um país de literatura. A afirmação, apesar de cruel e dura, encontra solo fértil quando analisamos as estimativas: segundo a 4ª edição da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, realizada pelo Instituto Pró-Livro, o brasileiro possui uma média de 4,96 livros por habitante. Em 2018, ainda, o Brasil ocupava o 59° lugar no ranking da leitura entre 76 países.
Entretanto, pense: quais são as políticas públicas desenvolvidas para mudar esse cenário? O Brasil é mesmo um país de não-leitores ou só acreditamos nisso por ser mais fácil do que encarar a realidade de descaso, abandono e indiferença governamental em que a literatura é posta no nosso país? É evidente que devemos ampliar o acesso à literatura, e não restringi-lo ainda mais, como o Governo ameaça constantemente fazer.
Pensando nisso, trouxemos algumas alternativas para que você, que quer criar o hábito da leitura ou então aumentar seu ritmo, possa fazê-lo a um preço mais acessível (ou até mesmo de graça). Acompanhe:
Kindle Unlimited
O serviço de assinatura Amazon é uma das formas de ler por um preço justo e que ‘cabe no seu bolso’. Funciona assim: pelo seu kindle ou no próprio aplicativo para Android e IOS e com uma conta Amazon, você pode pegar emprestado quantos ebooks quiser disponíveis no serviço (até 10 títulos por vez). A assinatura que dá acesso a mais de um milhão de livros, revistas e histórias em quadrinhos começa com 30 dias de uso grátis e, após o período de teste, R$19,90 por mês. Se você ainda achou caro, calma: vez ou outra (em tempos de oferta, como na Black Friday) a Amazon libera a assinatura por três meses custando apenas R$1,99! Fique atento, pois as promoções duram apenas alguns dias.

Sebos
Longe de serem novidade, estes verdadeiros templos da democracia literária, segundo Carlos Drummond de Andrade, são espaços destinados à comercialização e troca de livros usados (em sua grande maioria). Por conta disso, costumam ser mais acessíveis e possibilitam uma leitura mais barata. E vão além, em alguns acervos se encontram livros raros ou que não são mais publicados. Hoje, você pode encontrar sebos tanto físicos como onlines, como a Estante Virtual e o Traça.
Livros em domínio público
Obras que já não são protegidas por direitos autorais se enquadram na categoria de ‘domínio público’, o que significa que esses livros podem ser reproduzidos, distribuídos, traduzidos, publicados ou adaptados sem a necessidade de autorização. Muitos sites disponibilizam PDFs dessas obras, alguns deles são: Portal Domínio Público, Projeto Adamastor, Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin e Biblioteca Digital de Literatura (UFSC).
Skeelo
Nesse aplicativo, você tem acesso a uma biblioteca com diversos livros, dos mais variados gêneros. O app possui parceria com todas as grandes operadoras (TIM, Claro, Vivo, Oi, entre outros), possibilitando o acesso Premium. Além disso, o aplicativo disponibiliza mais de 100 títulos gratuitamente.
Ebooks gratuitos na Amazon
Se você não quer esperar a promoção do Kindle Unlimited para começar suas leituras, não tem problema: você pode ter acesso a diversos títulos gratuitamente apenas indo na sessão “ebooks gratuitos”, disponível na aba “eBooks Kindle”, na Amazon. Para ter acesso a esses livros, você só precisa de uma conta no site e do aplicativo Kindle. Lembrando que para fazer o download de graça você deve clicar em ‘comprar agora com -1 clique’.

Clubes de assinatura
Os clubes de assinatura podem ser uma opção para aqueles leitores que desejam economizar e criar laços com outros associados, sem abrir mão do livro físico. Atualmente existem vários planos com vantagens e formas de pagamento diferentes, que se encaixam no gosto e no bolso de cada leitor. Aqui vão alguns exemplos:
Tag
A Tag é um clube literário que requer assinatura prévia, podendo ser anual ou mensal. Após a associação, você recebe uma caixa contendo um livro e alguns itens literários. A escolha das obras pode ser feita por grandes autores (que indicam seus favoritos), ou de acordo com best-sellers e apostas de leitura. A assinatura pode ser feita aqui.
Caixa Clube Skoob
Contando com dois tipos de planos, o box contém um livro e alguns brindes que podem fazer referência ao mundo geek ou à literatura geral. Entenda.
Clube de Literatura Clássica
Este clube é voltado para leitura de obras clássicas, mas funciona de forma semelhante aos demais. Nele você tem opção de dois planos (mensal e anual) para receber o box mensalmente em sua casa, além de outros benefícios como descontos e bônus. Saiba mais.
Intrínsecos
O diferencial dessa assinatura é que além dos brindes usuais ela conta com volumes inéditos, sempre em capa dura e numa edição distinta da que chega às lojas tempos depois. Também há um programa de fidelidade no plano anual. Veja.
Se já usou algum desses métodos ou conhece algum que não citamos, conta para gente! Não esquece de compartilhar essa matéria com alguém que também gosta ou quer começar a ler para motivá-lo com o hábito da leitura — como um bookstan de respeito faria.
SÉRIE PANDEMIA 5 ANOS
Em 11 de março de 2020, a Organização Mundial da Saúde (OMS) elevou a classificação da Covid-19 para pandemia, indicando que a doença já havia se alastrado por todos os continentes. Naquele dia, os dados oficiais apontavam que mais de 118 mil pessoas já tinham sido infectadas em 114 países. O Brasil, já tinha 52 casos confirmados da doença. O estado de pandemia foi mantido pela OMS até 5 de maio de 2023.
Para marcar essa data histórica, o Coletivo F8 inicia hoje uma série especial sobre os 5 anos de pandemia, com reportagens produzidas por estudantes do curso de Jornalismo da UEPB. Reportagem produzida em fevereiro de 2022.
EXPEDIENTE:
Reportagem: Alice Vasconcelos, Gabryele Martins, Nathália Aguiar
Fotografia: Alice Vasconcelos, Gabryele Martins, Diego Souto
Supervisão Editorial: Rostand Melo
Comments