(Foto: Felipe Rau/Estadão)
O mundo foi surpreendido com a pandemia da Covid-19. E ela continua, causando incerteza e medo. De lá pra cá, a rotina de todas as pessoas nunca mais foi a mesma. Isso porque, mesmo com a flexibilização do isolamento social, os protocolos de segurança permanecem como, até então, única forma de prevenção contra a doença.
A pandemia afetou a vida das pessoas, o trabalho das pessoas. O home office virou modelo único de trabalho, essencial para a maioria das empresas e colaboradores. Mas, mesmo com esse modelo ainda fortemente praticado com a flexibilização do isolamento, alguns profissionais precisaram voltar às ruas, a fazer o trabalho como sempre foi feito. Aqui, enquadro agora o trabalho do fotojornalista - essencial para registrar as mudanças e consequências desse “novo normal” em que vivemos.
Para exemplo de registro, da informação pela imagem, tratarei aqui de uma narrativa fotográfica publicada no portal G1. O portal reuniu uma sequência de fotos, feitas por fotojornalistas de diversos veículos de comunicação, com o intuito de registrar e divulgar como foi o primeiro dia de reabertura das escolas na cidade de São Paulo.
A narrativa fotográfica publicada, da forma como foi organizada pelo portal, mostra cada passo dessa reabertura, desse “novo normal” que ficará na história do Brasil e do mundo. São registros que contam a história do ano de 2020, de uma pandemia que transformou os modos das sociedades, que fez o mundo parar e voltar-se para um mesmo propósito: encontrar uma saída para voltar a viver normalmente.
“O fotojornalismo é uma atividade singular que usa a fotografia como um veículo de observação, de informação, de análise e de opinião sobre a vida humana e as consequências que ela traz ao Planeta. A fotografia jornalística mostra, revela, expõe, denuncia, opina. Dá informação e ajuda a credibilizar a informação textual. [...]” - Jorge Pedro Sousa, em Fotojornalismo: Uma introdução à história, às técnicas e à linguagem da fotografia na imprensa.
(Foto: Amanda Perobelli/Reuters)
A fotorreportagem no portal G1, de São Paulo, é composta por ações e objetos que identificam esse “novo normal”. Nesse caso, por se tratar de um registro de volta às aulas de crianças e adolescentes nas escolas da cidade, temos que questionar até onde está o ponto da ética no fotojornalismo.
É possível que todos esses rostos capturados pelas lentes dos profissionais sabiam que estariam estampados na narrativa? A autorização das instituições que liberaram os registros pelos fotojornalistas também garantiu essa exposição? Espera-se que sim! Afinal, o “novo normal” - apesar de transformar o mundo - não permitiu a quebra da ética jornalística.
A narrativa fotográfica está eticamente correta quando tratamos de direito autoral das imagens. Isso porque, todos os registros foram publicados com seus devidos créditos - o que, certamente, deve ter sido autorizado por cada autor. Algumas fotos foram registradas por um profissional do próprio portal G1, enquanto outras foram registradas por fotojornalistas de outros veículos de comunicação, agências de notícias ou pelas assessorias das próprias instituições de ensino.
Em seu formato de fotorreportagem, a narrativa nos faz imergir na realidade contemporânea. Cada foto revela um “novo normal”, de ações e comportamentos jamais antes vistos em sociedade. Sendo assim, não me parece soar exagerado categorizar tal narrativa como uma spot news, porque em algum momento essas fotos se tornaram ou se tornarão únicas, registros de um acontecimento duro para a história do mundo.
Como, brilhantemente, descreve Jorge Pedro Sousa, em Fotojornalismo: Uma introdução à história, às técnicas e à linguagem da fotografia na imprensa, “realce-se que, em certos casos, um conjunto de várias spot news sobre uma ocorrência pode funcionar como uma história em fotografias. [...]”. E é isso que a narrativa fotográfica aqui em questão nos permite observar e permitirá ser observado em outros tempos: uma história dura e triste, que afetou o Brasil e o mundo.
(Fotos: Werther Santana e Felipe Rau/Estadão Conteúdo; Celso Tavares/G1)
FICHA TÉCNICA
Texto e análise: Érica Ribeiro
Supervisão editorial: Rostand Melo
*Observatório de Fotojornalismo:
O Coletivo F8 optou por produzir análises sobre produções de fotojornalismo realizadas e publicadas em 2020 como alternativa de manter a produção acadêmica dos estudantes de fotojornalismo da UEPB, respeitando os protocolos de distanciamento social. São analisadas fotografias publicadas em revistas, jornais ou portais de notícias e que abordam temas diversos, mas que foram produzidos no contexto da pandemia.
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