Preparando o estúdio para logo logo receber o entrevistado dava um frio na barriga, saber que em breve um dos maiores nomes do fotojornalismo brasileiro estaria ali sentado posando para as fotos e falando um pouco sobre sua vida era um certa pressão e entusiasmo ao mesmo tempo. Nascido em Irajuba na Bahia, com seus 84 anos de bagagem, Evandro Teixeira é um forte nome em nossa história, mesmo quem nunca ouviu sobre esse personagem já viu uma foto sua em livro de história, principalmente as do período da Ditadura Militar de 1964.
Evandro foi fotografado na sala do Laboratório de Fotojornalismo da UEPB no finalzinho de 2019, quando esteve em Campina Grande para ser o palestrante na abertura da 2ª edição da Grão Fino: Semana de Fotografia. Em 2020, o evento vai acontecer de 26 a 30 de outubro numa parceria entre os cursos de Arte e Mídia da UFCG e de Jornalismo da UEPB.
Ao chegar à porta do estúdio, ele foi cercado por alunos antes mesmo de entrar e já começou a narrar algumas de suas incríveis histórias, como a com Vinicius de Moraes que fez uma das alunas cair em lágrimas enquanto ouvia. Depois da conversa no lado de fora, ele se dirigiu para dentro e elogiou o estúdio que recentemente tinha sido reformado e era a primeira vez que alguém usaria depois da reforma. Ele sentou na cadeira posicionada para as fotos, vestia trajes normais, porém sempre com sua câmera pendurada no pescoço.
No começo mostrou um lado inusitado: Não sabe como ficar em frente às lentes. Ficou tímido, mas com sua forma espontânea começou a fazer piadas e poses, depois pegou um dos seus livros e começou a foliar, mostrando uma de suas fotos favoritas: O Casamento de Paraty, tirada em 1969 e ele confessar também nunca mais ter encontrado o casal da fotografia e tem o desejo de reencontrá-los.
E falando de fotos, Evandro conta um pouco sobre a migração do analógico para o digital. “Eu sou um cara que estuda muito, sempre acompanhei [...] Não senti diferença, é claro que tem o impacto, mas como eu estudei muito e já estava pesquisando, sentindo que tudo ia mudar e foi maravilhoso, imagina só, eu viajava com um laboratório portátil, era um burro de carga montar aquilo em hotel. Várias vezes ele foi expulso de hotéis por montar laboratórios de revelação de foto nos banheiros", como uma vez em Budapeste.
Falou um pouco da sua trajetória, como quando fotografou o estádio nacional no Chile Durante a ditadura militar do país e o velório do poeta Pablo Neruda, onde ele acompanhou desde o hospital até o cemitério. Com toda essa caminhada, já escreveu vários livros, como um sobre o estado do Rio Grande do Norte e outro sobre os 50 anos do fotojornalismo, todos os seus livros atualmente se encontram esgotados.
Entre conversa vem e conversa vai, surgiu uma perguntar de outra aluna do curso “Como Evandro Teixeira olha pra si mesmo e se enxerga?” Rapidamente ele respondeu:
“Eu fico muito feliz pelo legado que vou deixando, sendo reconhecido, principalmente pelos que estudam que nem vocês, a arte, a fotografia, o jornalismo, a comunicação, eu acho isso muito da maior importância, me sinto feliz, honrado, em ser compartilhado, é uma coisa que eu gosto muito. Fico muito chateado quando vejo determinados profissionais, não dizendo que eu seja isso ou aquilo, que não tem um terço do que fiz e construí, já vi muita gente de nariz arrebitado [...] Acho que to deixando um legado, fico feliz em construir, participei um pouco da história do Brasil, me sinto também feliz em ter sido importante também na história [...] Cheguei onde cheguei com muito esforço, com muita coragem [...] Faça o que vocês gostam, tenham fé, acreditem e corram atrás, vão atrás. Cansei de ver colega meu dizer “A fotografar buraco”, eu sempre saí pra fotografar buraco com a maior importância, faça você uma bela imagem e conquiste uma primeira página”
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Ficha Técnica:
Fotografia: Andresa Costa e Vitória Felix
Reportagem: Andresa Costa e Vitória Felix
Monitoria: Joyce Lima
Supervisão editorial: Rostand Melo