“As vendas são poucas. E a cada ano que passa, diminui. Desde que entramos aqui, em 2008, até as vendas no São João tem caído.”
Na cidade de Campina Grande, estado da Paraíba, o artesanato marca presença e não estamos falando somente do período junino, quando é realizado O Maior São João do Mundo e acontecem as edições do Salão de Artesanato.
A Vila do Artesão funciona durante todo o ano e mais que um espaço para divulgação do trabalho dos artistas campinenses, no cotidiano da Vila, nos personagens e na voz do artesão trazendo sua visão sobre a representação da cultura popular na Paraíba, percebe-se o quanto o artesanato paraibano tem sido ofuscado em termos de representatividade.
Esquecidos, os artesãos da Vila reclamam de como o lugar, cheio de arte e cultura, tem sido desvalorizado pela população e pelo poder público.
Segundo alguns artesãos, não existe movimento na Vila há muito tempo. Alguns problemas apontados por eles, que causam esse afastamento, é a falta de divulgação do lugar por parte do poder público, a desvalorização do artesanato paraibano pela população campinense e a ausência de ônibus que passe pelo local. Segundo eles, esses fatores têm desmotivado os artesãos a continuarem o seu trabalho. “As vendas são poucas. E a cada ano que passa, diminui. Desde que entramos aqui, em 2008, até as vendas no São João tem caído.” Relatou uma artesã.
Confira mais imagens da Vila do Artesão no Slideshow:
O que dizem os artesãos da Vila
Para Dona Maria, que trabalha na Vila há oito anos, o artesanato foi um escape quando, aos 52 anos, se viu desempregada. Em entrevista, ela contou mais da história: “Eu perco a noção do tempo, esqueço até de comer quando começo a fazer artesanato.” Todavia, ela destacou que viver exclusivamente do artesanato é impossível pois, segundo ela, não há retorno.
A compra do material e o tempo gasto na produção não são valorizados quando inclusos no preço do produto. Como relatou Dona Mairan, que também é aposentada. Para ela, trabalhar na Vila é um lazer. Ela ainda destacou que lá, só se vende no período do São João. “É muito triste”, disse.
Dona Vanda, que também é artesã na Vila desde a fundação do local, contou que além do artesanato, é preciso incluir outros produtos, tudo para tentar chamar a atenção do cliente.
Jean, que trabalha na Vila há seis anos, fez questão de destacar: "Não é uma coisa que faz parte da cultura do Campinense, visitar museus e feiras de artesanatos. Aqui não há costume de se atrair por cultura.” No seu chalé encontramos pinturas de óleo sobre tela no estilo impressionismo e continuísmo.
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Aos sábados, a Vila realiza uma programação diferente a fim de atrair visitantes ao local. A música ao vivo com o estilo campinense de ser atrai novos olhares de moradores da cidade e de turistas que procuram por diversão. Mas para os artesãos, essa programação ao invés de ajudar, atrapalha.
Muitos precisam fechar seus chalés mais cedo, por conta do grande número de pessoas embriagadas que lá se acumulam. Outra questão apontada por um artesão, é que a divulgação dessa programação não inclui o artesanato que lá é feito, logo, as pessoas que vem para a festa, nem passam pelos chalés para conhecer o trabalhos dos artesãos.
Apesar de tantas questões mal resolvidas na Vila do Artesão, os artistas que lá se encontram não se imaginam fazendo outra coisa. Embora esse trabalho seja desvalorizado, o artesanato tem um significado especial para cada um e, principalmente, faz parte da cultura paraibana e campinense. Falta, somente, que essas questões sejam ouvidas e que a voz do artesão ganhe força e vez, a fim de que nossa população não abandone suas raízes e valorize os costumes da cultura nordestina, que é bela e única.
FICHA TÉCNICA:
Reportagem (Texto e fotos): Sara Silva.
Locação: Vila do Artesão em Campina Grande.
Supervisão editorial: Rostand Melo.