No camarim com Gitana: “só canto o que me faz feliz”
- Coletivo F8
- 27 de jun. de 2018
- 8 min de leitura

O camarim é o refúgio mais íntimo de um artista. Foi justamente no camarim do Teatro Municipal Severino Cabral que a cantora Gitana Pimentel recebeu a nossa equipe para um bate-papo descontraído e um ensaio fotográfico mostrando o passo a passo de sua preparação antes de um show.
Deixou ser fotografada ainda sem maquiagem. Revelou detalhes da sua vida e carreira sem usar máscaras. O resultado você confere na entrevista a seguir e nos retratos que acompanham cada resposta.
Nascida em Patos, Gitana relata como Tom Oliveira lhe abriu as portas para o mundo do forró e conta os sonhos para o futuro da carreira. Aponta ter influencias que vão desde Shakira a Marisa Monte, mas mantendo o foco na música nordestina.
Com muito bom humor, confessa a "vingança musical" contra os ciúmes de uma cantora incomodada com o seu sucesso e revela como busca inspiração nos momentos de raiva. A artista mostra ainda como surgiu o convite para cantar em Genébra, na Suiça, onde no próximo mês de julho para apresentar seu show de forró pé-de-serra.

Coletivo F8: Como começou o teu contato com a música?
Gitana Pimentel: Olha, a minha família tem muitos músicos. Os que não são músicos são loucos por música, então tem muitos instrumentistas, todo mundo gosta de cantar. Desde que eu era criancinha, sempre ouvia meu pai e meu avô cantarem e eu sempre fui louca por música. Mas eu não fui uma criança prodígio para cantar. Eu cantava assim nas festas desde pequenininha, com três anos, mas não para o público. Daí com 14 anos eu fui fazer aulas de violão e o professor foi pegar o tom de uma música para me ensinar a tocar. Eu ainda lembro da música, era “Morena Tropicana” (de Alceu Valença) e ele gostou da minha voz. Ele estava organizando um festival que era o “Festival da Mais Bela Voz de Patos” e botou na cabeça que era para eu participar. Minha mãe não queria que eu fosse, dizendo que eu pagaria um mico, porque ninguém nunca tinha me ouvido cantar. Mas eu fui, passei e fui finalista, A partir daí eu tomei gosto e nunca mais parei. Para sempre!
Coletivo F8: Qual o estilo musical que você prefere?
Gitana: Que pergunta difícil. Socooooorro!!! (Risos) Olha, eu gosto de música muito swingada. Não importa o gênero, eu gosto muito de forro pé-de-serra, gosto muito de samba, gosto muito de frevo, de axé. Eu sou muito astral. É tudo assim, eu gosto dessa vibe. Estilo Capilé (Risos).

Coletivo F8: Hoje, como é a relação entre Gitana e a música?
Gitana: Eu vivo só disso, exclusivamente. Eu vivo disso e vivo para isso. E olhe que eu sou muito ocupada. As pessoas pensam que o artista não é ocupado, mas eu sou, porque eu sou enxerida e trabalho com produção também, tanto a minha como da banda Oxente Group, que é instrumental. Eu vivo só disso!
Coletivo F8: Você teve algum artista que te inspirou a entrar na música?
Gitana: Muitos. Quando eu era pirralha eu era fã de Sandy e Jr. Uma vez eu fui chamada pra fazer um cover de Sandy, mas minha mãe não deixou. Foi uma frustração. Porque eu era muito nova, tinha uns 8 a 10 anos, e tinha que viajar e tal, aí ela não deixou de jeito nenhum. Com razão, né? E Shakira! Ela foi meu segundo ídolo. Eu já era adolescente e a minha primeira banda foi de pop rock, então ela era minha inspiração master. E tem os extras, né? Tem Marisa Monte, que eu acho que é inspiração de todas as cantoras do Brasil, não tem como fugir de Marisa Monte.
Coletivo F8: Mas aqui da Paraíba, teve algum artista em específico? você era backing vocal de Tom Oliveira. Ele, de alguma forma, foi uma inspiração para esse seu gênero mais puxado para o forró?
Gitana: Desde que eu morava em Patos eu era fã de Tom. Ia para o pé do palco (risos) ficar olhando para ele. Aí eu comecei a namorar com um rapaz e ele era amigo de Tom Oliveira. Eu não sabia, e eu era fã de Tom alucinada. E aí a backing vocal dele estava de licença maternidade e ele estava precisando de uma substituta. Como eu já cantava, me colocaram lá. É uma coisa que eu me orgulho muito, falo a todo mundo. Ele até tira onda comigo dizendo: “não tem outra coisa para tu falar não?” Mas eu me orgulho muito de ter trabalhado com ele. Meu primeiro pezinho no forró foi com Tom Oliveira.
Coletivo F8: Qual o seu sentimento por ter sido finalista do Prêmio Multishow?
Gitana: Essa história foi muito engraçada. Quando comecei a cantar eu não tinha experiência nenhuma, mas sempre tive grandes oportunidades. Porque eu sempre fui assim, se é para fazer uma coisa, tem que fazer logo "arrombando". Então eu fui gravar meu primeiro CD e ninguém me conhecia, mas eu já fiz um CD todo autoral. Contratei os melhores músicos, fui no melhor estúdio, fiz a capa com um super fotógrafo de João Pessoa, investi muito pesado para começar. Tanto que muita gente achava que eu não era daqui, porque não me conheciam. Quando eu comecei minha carreira, teve uma cantora que começou a botar "catinga" em tudo que eu fazia. Botava fake nas redes sociais para falar mal de mim, porque ela era da mesma geração que eu, mas já era uma cantora mais antiga. Quando eu cheguei ela não curtiu muito. Aí ela começou a criar fake e a infernizar e eu escrevi um desabafo. Era só um texto, não era música. Se tornou a música “Pra cima de mim”. Essa música foi indicada ao Prêmio Multishow na categoria “nova canção”. Foi uma coisa incrível, porque se ela não tivesse feito comigo o que ela fez, eu não teria feito a música e não teria chegado ao Prêmio Multishow. Ela me infernizou e foi maravilhoso (risos). Foi uma vingança sem querer, porque a música eu fiz para ela.

Coletivo F8: Então você também é compositora, não é mesmo?
Gitana: Eu só consigo compor se eu estiver com raiva. Eu não escrevo coisas alegres. Minhas composições são todas desaforadas. E são poucas. Tem algumas do tempo da Som Estéreo, minha primeira banda Som Estéreo Rock Clube, a do Multishow é minha, que foi a da treta com cantora e a última faixa do disco, que é a fixa título “Enfim Só”, foi porque eu tinha um noivo e eu odiava ele. Eu era doida para terminar com ele e ele não deixava. Tipo cururu, que você bota para fora e ele volta. Quando finalmente consegui acabar, eu fiz a música “Enfim Só”. Minha inspiração é ter raiva!
Coletivo F8: Como foi se apresentar no São João de Campina Grande pela primeira vez?
Gitana: Foi bom e eu tive muita sorte. Eu sou uma pessoa que costuma ter sorte. Minha primeira vez no palco principal (em 2016) eles me colocaram no último sábado, na mesma noite de Dorgival Dantas. Estava lotado e foi maravilhoso, maravilhoso. Até hoje eu assisto aos vídeos e eu não acredito.

Repórter: Tem algo que você almeja muito?
Coletivo F8: Eu acho que o que eu quero aparecer mais. Ter mais visibilidade nacionalmente. Estive na Suíça em julho (do ano passado) cantando no São João de Genebra, eu quero mais. Espero mais shows internacionais. (Gitana estará de volta a Suiça nos dias 6, 7 e 8 de julho de 2018)
Coletivo F8: Como foi essa ponte para chegar até a Suíça?
Gitana: A produtora me achou nas redes sociais e me adicionou. Ela entrou em contato propondo fazer esse show no São João de Genebra. Eu disse, meu nome é “já"! Só que sempre que eu entro em algo, penso que sou coordenadora e já começo a organizar tudo. Levei mais dois artistas, Edglei Miguel e Fabiano Guimarães. Quando cheguei lá foi incrível, pois tudo é diferente. As festas de São João lá são muito pequenas. Lá não existe casa de shows, os shows muito grandes são em estádios. Nas festas os shows são feitos todos em lugares pequenos, em pubs... A gente fazia num terreno que tem competições de hipismo, lindo, lindo. Essas festas lá são como quermesses, não é como a festa daqui de muvuca, palco gigante. Lá é barraquinha, bandeirinha, lindo, lindo! É outro clima, bem diferente. As pessoas lá amam forró pé-de-serra. O circuito de forró na Europa é gigante. Tem não sei quantos festivais todos os anos na Europa inteira. É incrível, nas boates os DJs tocam forró que os forrozeiros daqui nem conhecem. Tipo: o lado B do Trio Nordestino, lado B dos Três do Nordeste, coisa que ninguém toca e nem escuta aqui, eles tocam na Europa.

Coletivo F8: Conte um pouco sobre seu projeto com versões de canções de Flávio José.
Gitana: Eu me inscrevi para o “Quartas Acústicas”, aqui do Tetro Municipal, e meu diretor de arte, que é Aladim Monteiro, que é fotógrafo, falou que tinha muita vontade que eu fizesse um show só com músicas de Flávio José. Foi uma sacada incrível, porque Flávio é um cantor e compositor que todas as gerações gostam, que todas as músicas que ele gravou foram sucesso. Foi dificílimo escolher o repertório. Tinha músicas que a gente cantava pelo menos um pedaço para não deixar de fora, porque são muitos sucessos. Coincidentemente era o marco dos 30 anos de carreira dele e eu nem sabia. Esse espetáculo era bem teatral, é só voz e sanfona, uma história entre mim e o sanfoneiro, bem romântico, para se assistir chorando.
Coletivo F8: Você passou pelo samba, é do forró, mas já puxou trio elétrico. Como foi essa experiência?
Gitana: Trio elétrico era meu sonho de criança. Eu era louca para ser cantora de axé. Meu sonho era cantar na Micarande, e eu realizei num bloco chamado “Rubacão da Socorro”. Foi ali, entrando no Parque do Povo, que eu me senti na dispersão da Micarande, porque estava muito cheio. Quando me chamaram a primeira vez para puxar um trio, que foi em 2015, teve gente que não acreditava, que ficou contra, porque diziam que eu era patricinha... eu não sei de onde tiraram isso. Mas eu tinha que fazer, porque era um sonho meu. E deu tão certo que esse ano eu puxei quatro blocos aqui em Campina.

Coletivo F8: Qual o sentimento que passa pela sua cabeça quando você está nos preparativos finais para entrar no palco? Nervosismo? Ansiedade?
Gitana: Sempre! Eu fico nervosa, acho que o artista que não fica nervoso... Porque assim, eu me preocupo muito com as pessoas, elas tem que estar gostando. Tem artista que canta para si, levanta a cabeça e está nem aí. Eu não, eu fico muito preocupada com as pessoas. Pode ter dez, pode ter dez mil, tem que ser o mesmo show, com a mesma qualidade e a mesma alegria.
Coletivo F8: Você chega ao ponto de viajar tanto na música que esquece o que há em volta?
Gitana: Eu já chorei... Teve uma vez, que eu nunca esqueço: eu estava cantando num bar e no meio da música eu comecei a chorar. Eu me arrepio muito. Já tive até crise de riso... Eu me divirto muito!

Coletivo F8: Já que estamos num camarim, como é a escolha do seu estilo? Roupas, maquiagem. Você tem alguma consultoria?
Gitana: Tem sim. Eu não passo um batom sem perguntar a Aladim Monteiro, que é meu diretor de arte. Então, se eu for escolher roupas e ele não puder ir comigo, eu tenho que mostrar a ele. Tudo, cada movimento meu. Minha maquiadora é Aldenise ele confia muito nela, mas é ele quem diz como vai ser. Eu tenho ele comigo sempre. Mas nem sempre eu tive. Quando eu me imagino a dois anos atrás não tem nem comparação.

Coletivo F8: Você mencionou que seu produtor de arte é fotógrafo. De que forma a fotografia está presente no seu trabalho?
Gitana: Totalmente! Comecei a ficar mais conhecida e mais respeitada por causa da parte visual. Meu primeiro CD quem fez as fotos foi Lucas Freitas, de João Pessoa, que é fotógrafo de moda. A gente fez uma mega produção, um editorial mesmo. Tudo o que vou fazer tenho muito cuidado com fotos. Foto de show, sempre que posso levo um fotógrafo, que é Júlio (Júlio Cézar Peres). Tenho muito cuidado com imagem, porque é o que as pessoas veem primeiro. Vejo meu Instagram tempos atrás e tenho vergonha. Hoje é outra história. Fiquei com esse cuidado todo por causa de Aladim, como ele é produtor de arte, ele é muito chato com isso.

FICHA TÉCNICA:
Fotografia: Jaqueline Alves, Tony Morais , Renan Lutiane , Mariana Rodrigues e Sabryelle Torres
Reportagem: Alex Albino, Paulo Coelho e Victor Silva
Monitoria: Mayara Bezerra
Supervisão editorial: Rostand Melo
Locação: Teatro Municipal Severino Cabral
Agradecimentos: Erasmo Rafael, Zita Almeida e Beatriz Vieira.
