No princípio eu tive medo.
É engraçado dizer, após o trabalho estar pronto, que tive medo de produzi-lo. Mas essa é a grande verdade.
Encarar a realidade é, em muitas situações, algo duro. Mas retratar essa realidade de forma que toque as pessoas é ainda mais duro.
Quando o tema de cunho social foi proposto, eu não fazia a menor ideia do que iria encontrar nas ruas. No geral, pensamos naquela realidade “lavada” que existe desigualdade social e que, corriqueiramente, isso é “normal”, “acontece”, “o mundo é assim”.
"Passei a semana inteira me perguntando como seria o Natal destas pessoas. Como elas iriam comer, ou se tinham ao menos um teto"
Mas, olhar de forma tão “seca” a situação de quem luta dessa forma para ter algo, ou pelo menos conseguir o que comer, chega a ser cruel.
Gostaria de narrar isso de forma mais informal, mas é improvável que eu consiga diante da reflexão que esse trabalho me trouxe. Passei a semana inteira me perguntando como seria o Natal destas pessoas. Como elas iriam comer, ou se tinham ao menos um teto. Um lugar onde pudessem tomar um banho, trocar a roupa e comemorar a chegada do Menino Jesus.
Então, ouvi a frase:“Alguém precisa fazer essa foto, Aluska!”
Fotografar essa realidade também me fez refletir. Eu me senti intimidada. Mas não de uma forma negativa, e sim, de uma forma sensível.
Parecia errado fotografar essa realidade. Era como expor a sensibilidade de quem já estava exposto demais. Parecia ultrapassar o único espaço escuro onde estas pessoas poderiam passar “despercebidas”, de certo modo. Então, ouvi a frase “Alguém precisa fazer essa foto, Aluska!” Era Dalisson Markel, monitor da disciplina de fotojornalismo, que me acompanhava na produção do trabalho e fez esse alerta para me incentivar.
E a primeira coisa que me questionei foi: “Por que deve ser eu? Eu tenho o direito de fazer isso? Até onde posso expor essas pessoas?”
"Eu queria ajudar.
Mas, me senti impotente.
Estava sem dinheiro, não tinha comida para dar.
Só tinha uma câmera e uma lente."
Não era da minha vontade apenas fotografar essa realidade e fazer com que as pessoas vissem isso, se comovessem e se movessem a ajudar. Eu queria ajudar. Mas, me senti completamente impotente.
Eu estava sem dinheiro na carteira, para contribuir de algum modo. Fosse pagando um lanche, ou ajudando para que o lucro deles, ao menos naquele dia, fosse melhor. Não tinha comida na bolsa para dar aquelas crianças, nem brinquedo para que elas se distraíssem. Só tinha uma câmera e uma lente.
E assim, em palavras simples e fotos resultantes de uma noite de reflexão e cliques, surgiu a Crônica de Natal. Espero que a crônica que produzi tenha retratado ao menos 30% da realidade dessas pessoas, que sabem o verdadeiro significado da palavra “guerreira”.
Bastidores da fotorreportagem "Crônica de Natal", publicada no coletivof8.com
Confira a reportagem completa no link.
FICHA TÉCNICA:
Fotografia e texto: Aluska Teberge
Monitoria: Dalisson Markel
Supervisão editorial: Rostand Melo